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Direto ao Ponto

Fretes, dívidas e taxação consomem lucro do produtor de milho

De acordo com presidente-executivo da Abramilho, Sérgio Bortolozzo, setor busca alternativas para agregar valor, como produção de etanol e proteínas para alimentação animal

Sérgio Bortolozzo, Abramilho
Foto: Canal Rural/reprodução

A tabela de preços mínimos do frete continua gerando desgaste e prejuízos aos agricultores brasileiros. A medida tem apertado cada vez mais as margens de rentabilidade dos produtores de milho. Com volume de produção menor que o da soja, por exemplo, o tabelamento pesa mais sobre o cereal, principalmente na região Sul do país. Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Sérgio Bortolozzo, relatou que a taxação em Mato Grosso, a importação do grão da Argentina e do Paraguai e o endividamento são atualmente outros fatores negativos para o setor. No entanto, ele vislumbra oportunidades de melhora com a geração de etanol e de DDG, concentrado de proteína que pode ser mais bem explorado na alimentação animal.

Segundo Bortolozzo, o tabelamento dos fretes traz consequência drástica ao produtor de milho. “Atinge com muito mais força porque são volumes menores, o transporte pesa muito mais para nós. A situação é mais drástica para nós”, disse. Ele citou o exemplo dos agricultores de Santa Catarina que, além de sofrerem com a pressão nos preços devido ao grande mercado consumidor local, veem as indústrias de proteína animal importarem o grão da Argentina, pelo mar, e do Paraguai, por caminhoneiros locais que não cobram a tabela do frete e operam de forma mais barata.

A taxação de 6% que o governo de Mato Grosso impôs às exportações de milho do estado também foi criticada pela Abramilho. “O posicionamento é contrário a qualquer tipo de taxação, mas infelizmente existe uma tendência de que o setor seja mais taxado porque é tido como privilegiado, quando somos competentes. O setor fica ameaçado sim, é um absurdo para o produtor, para o país e para o consumidor. Alguém vai pagar a conta lá na frente”, destacou Bortolozzo.

Oportunidades

O presidente da Abramilho ressaltou que o investimento na produção de etanol de milho é uma das grandes oportunidades que o setor tem para agregar valor ao grão nacional e, consequentemente, aumentar lucros. Ele acredita que vários estados vão seguir o modelo iniciado por Mato Grosso e que o setor sucroalcooleiro também deve apostar nesse produto. “O etanol está se consolidando cada vez mais com a necessidade de energia renovável, e nós aparecemos mais uma vez como opção de abastecimento. O que vendemos como commodity não é o que queremos, queremos agregar valor. O milho era concorrente da cana, mas o usineiro sabe fazer conta também. A expectativa é que cresça para outras regiões do país. A tendência é produzir mais açúcar da cana e mais etanol do milho, gerando empregos, impostos e oferta maior para o setor de proteínas. O setor sucroalcooleiro é muito organizado e já está fazendo essas contas”.

Ele também apontou a oportunidade de aumentar a produção do DDG, um concentrado protéico obtido no processo de fabricação do etanol e que tem capacidade de concorrer com o farelo de soja na alimentação animal. “O etanol pode passar a ser subproduto com o DDG para proteína e podemos explorar outras coisas”, diz.

Atualmente, o Brasil produz 90 milhões de toneladas de milho, consome 60 milhões de toneladas, principalmente com a alimentação animal, e exporta 30 milhões de toneladas. “Esse mercado está consolidado e o setor foi beneficiado com isso, principalmente pela previsibilidade de preço. O milho hoje é precificado no país. Basicamente é a cotação de Chicago mais o prêmio menos o frete e o custo portuário”, afirma Bortolozzo.

Endividamento

O setor produtivo estuda os dados do endividamento agrícola do país para propor medidas legislativas que possam solucionar a questão. Segundo Sérgio Bortolozzo, os riscos e as seguidas intempéries climáticos no período da segunda safra, época de cultivo de 70% da produção total de milho no país, intensificaram perdas e dívidas para o segmento. “Isso gerou situação de endividamento e, como não temos amparo de seguro rural nenhum, crédito cada vez mais curto e taxas cada vez menos competitivas, temos estoque de dívidas que estamos carregando. Temos que analisar e buscar solução”.

O representante da Abramilho destacou que, muitas vezes, o governo não cumpre todas as medidas legais de auxílio à renegociação de dívidas que o agricultor tem direito. “Temos direito a ter o alongamento dos débitos e nem sempre isso é cumprido. O produtor não está sendo atendido em tudo que ele tem direito quando contrata a cédula de crédito. Queremos discutir isso, fazer trabalho técnico no IPA (Instituto Pensar Agro), com embasamento e orientações para que a Frente Parlamentar do Agronegócio leve para a esfera política.

Variedades de milho

Outro problema enfrentado pelos produtores de milho é o preço das tecnologias das sementes. “O produtor de milho começou a questionar, estava muito alto. A produção de segunda safra tem mais risco e o produtor diminui a tecnologia, então o peso da semente é grande. A preocupação é que o Brasil tem ficado para trás do nível de tecnologia que o mundo usa. O mundo tem alta produtividade, mas o perfil da produção no Brasil mudou, é safrinha”. Bortolozzo destacou que as empresas de sementes estão focadas na produção na segunda safra e devem investir em aspectos como resistência à seca, menor capacidade produtiva e redução de custos.

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