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Contra déficit de armazenagem, especialistas indicam investimento em estruturas próprias

Na terceira e última reportagem da série do Canal Rural sobre a armazenagem no Brasil, especialistas falam na necessidade de investimento em estocagem em espaços próprios

Na corrida contra o déficit de armazenagem do país, especialistas em logística e política agrícola indicam que o produtor deve estar atento às possibilidades de construção de espaços particulares para essa finalidade. Segundo o presidente do Comitê de Logística da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Claudio Gaeff,  é necessário que os produtores criem uma cultura para tal e compreendam que podem obter lucros com o modelo de gestão particular;

“O que sabe-se é que, ao ter armazéns, eu flexibilizo minha demanda ao frete, porque eu posso colher e deixar no meu armazém e vou soltando aos poucos, trabalhando justamente em cima da demanda de disponibilidade de caminhões ou não. O que eu acho que tem que fazer, que falta um pouco, é justamente isso: é o produtor entender melhor os cálculos que estão envolvidos aqui, como ele poderia ganhar com isso”, disse.

Para ajudar nesta tarefa, a Aprosoja Mato Grosso e o Imea devem lançar uma plataforma mostrando que mesmo pequenos produtores podem construir armazéns com rápido retorno financeiro.

“A Aprosoja já desenvolveu um simulador junto com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária [IMEA] para demonstrar que, utilizando as premissas de desconto de qualidade e frete curto, o ganho que ele tem de reduzir suas vendas antecipadas paga esse investimento de 3 a 5 anos. Diferente das análises que havia antigamente, que produtores com até 1 mil, 1,5 mil hectares não tinham viabilidade para isso”, explicou o consultor em política agrícola Thiago Rocha.

No entanto, os armazéns não são construídos sem crédito. No lançamento do plano safra atual, a ministra Tereza Cristina apontou que linha PCA, o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns, como uma das prioridades. Cerca de R$ 1,8 bilhão foram destinados para esse tipo de financiamento, com juros entre 5% e 6%. O problema é que, em apenas quatro meses, o BNDES emitiu aviso de suspensão de novos contratos por comprometimento dos recursos, sinal de que a oferta ainda é baixa frente à demanda

Também há outros entraves: os condomínios de armazéns, que seriam uma saída mais em conta, não deslancharam. Há relatos de que algumas receitas estaduais taxam o empreendimento por entender que se trata de prestação de serviço. “São produtores, famílias com área contíguas em que eles fazem contratação de frete, compram seus insumos juntos e não faz sentido eles não armazenarem seus produtos para poder diluir o custo fixo”, disse Thiago Rocha.

“Então, o que é necessário para que isso ocorra na realidade, esses depósitos de armazenamento compartilhado, é que o Ministério nos apoie ou fomentando esse debate no Ministério da Economia ou até requisitando que essa pauta seja levada à reunião do Confaz para que a gente possa ter uma consolidação desse entendimento, que essa não é um prestador de serviço, é apenas um depósito compartilhado”, completou.