Rural Notícias

Dicamba: produtores temem que lavouras não resistentes sejam destruídas

Nos Estados Unidos, onde é utilizado como alternativa ao glifosato no combate a ervas invasoras, há 2.700 processos por plantações danificadas

Plantação de algodão
Foto: Henrique Bighetti/Canal Rural

A liberação do uso do herbicida dicamba está causando polêmica entre os produtores brasileiros de algodão. O agroquímico, utilizado nos Estados Unidos para combater ervas invasoras nas lavouras de soja, é alvo de pelo menos 2.700 processos judiciais por destruição de plantações não resistentes.

O risco fez a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) pedir ao Ministério da Agricultura cautela na permissão de venda de sementes resistentes, não pela tecnologia de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), mas para que se reveja o registro do agroquímico. “Nós já temos notícia de mais de 1 milhão de lavouras não resistentes”, alerta o diretor executivo da entidade, Márcio Portocarrero.

Para a professora de química da Universidade de Brasília (UNB) Fernanda Vasconcelos de Almeida, a alta volatilidade do agroquímico, acentuada pelo clima tropical, representa um risco. “O dicamba que está registrado no Brasil é na forma ácida, muito volátil. Isso faz com que evapore para atmosfera e os ventos transportem por longas distâncias. Então, atinge mais facilmente culturas distantes daquela onde ele foi aplicado”, explica.

Fernanda conta que empresas estão buscando variações menos voláteis, mas, segundo ela, isso ainda não é suficiente para garantir segurança. “Se nós temos altas temperaturas e muitas regiões de baixa umidade, ainda é volátil e tem potencial de atingir culturas mais distantes”, enfatiza.

Caso a formulação seja alterada para diminuir a volatilidade, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) defende que o uso é viável.

Segundo nota divulgada, o Ministério da Agricultura vai avaliar os riscos junto ao corpo técnico da pasta, para decidir sobre a permissão de venda de sementes resistentes.

Posicionamento

A gigante farmacêutica e química Bayer, fabricante do herbicida, posicionou-se dizendo que a agricultura tropical traz desafios únicos e segue trabalhando para oferecer opções ao campo. “Somos solidários a todas as iniciativas que visem seguir aumentando a competitividade do produtor brasileiro”, diz a nota da empresa.