Juros do Plano Safra familiar podem endividar pequeno produtor

Volume de crédito disponível foi bem recebido, mas taxas de 2,5% a 5,5% ao ano receberam críticas

Fonte: Reprodução/Canal Rural

A manutenção do volume de crédito em R$ 30 bilhões até foi vista com bons olhos, mas os juros do Plano Safra da agricultura familiar 2017/2018 preocupam o setor produtivo. Parte do setor acredita que a taxa de juros, que variam de 2,5% a 5,5% ao ano, vai endividar o pequeno produtor rural.

Para o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, deputado Heitor Shuch (PSB-RS), isso fará com que o produtor tenha que comprar insumos ainda inflacionados. “Pode fazer uma boa safra, mas o juro vai se tornar real, e ele vai ter dificuldade em pagar o banco no final da safra”, acredita.

O secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag), Antoninho Rovaris, afirma que seria possível ter havido uma redução de pelo menos um ponto percentual no limite máximo da taxa. “A gente sabe que faz parte do processo de negociação e entende ser possível, na discussão com o governo, haver uma redução desses juros”, diz.

Os juros propostos pelo governo ficarão bem acima do centro da meta da inflação, com previsão de 4%, de acordo com o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), José Mário Schreiner.  O que significa que haverá cobrança de juros reais. “Às vezes, a gente vê excelentes planos em Brasília, mas eles não conseguem chegar aonde precisa, que é lá no produtor rural”. 

Esta é a primeira vez que um plano da agricultura familiar é anunciado com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) em atividade. O órgão deve atender a 128 mil famílias neste ano, mas há quem desconfie da efetividade do projeto.

Os recursos anunciados há dois meses para a entidade, da ordem de R$ 30 milhões, seriam suficientes para cerca de 10 mil famílias, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural, Argileu Martins. “O Brasil tem muito mais do que isso e o conjunto das Ematers hoje chega a 2 milhões de propriedades e estabelecimentos”, conta.

O secretário da Contag, por sua vez, diz que muitos recursos anunciados nem sempre estão no orçamento. “Eu tenho muita dúvida se a Anater cumprirá com o que foi anunciado até o momento”, afirma Antoninho Rovaris.