Fluidez, segurança no trânsito e qualidade de vida. O segundo episódio da quarta temporada do programa Agronomia Sustentável aborda a mobilidade urbana e o papel das várias engenharias neste setor.
Trata-se de um grande desafio. Afinal, são quase 212 milhões de brasileiros, sendo que a cada ano mais pessoas migram para as grandes cidades. Assim, aumenta-se a pressão pelo planejamento dos municípios, uma vez que multiplica-se o número de pessoas que precisa se locomover de forma eficiente e, também, sustentável.
A engenharia sanitarista e ambiental Grazieli Coraline lembra que a mobilidade é fundamental para evitar congestionamentos, acidentes, evitar a emissão volumosa de gases causadores do efeito estufa e a poluição sonora.
A cidade de São Paulo, a maior metrópole do país, com quase 12 milhões de habitantes e o metrô da cidade é essencial na locomoção dos paulistanos. O meio de transporte completa 48 anos no município e hoje transporta cerca de 3,8 milhões de pessoas todos os dias. São 104 km de linha férrea.
O engenheiro civil Epaminondas Duarte Júnior trabalha no metrô há quatro décadas. “Toda uma vida dedicada ao metrô que é um meio de transporte importantíssimo e que revolucionou a cidade de São Paulo. As obras do metrô são muito difíceis. Obras subterrâneas, em uma cidade urbanizada como São Paulo, fica cada vez mais difícil porque se trabalha com desapropriação [de imóveis], com um solo, às vezes, muito irregular”, explica.
Segundo ele, as estações também já estão em processo de sustentabilidade com relação à utilização de energia e água e acessibilidade para as pessoas com deficiência.
Meios de transporte alternativos
Assim como o transporte subterrâneo, na superfície há uma expansão acontecendo na cidade de São Paulo: as bicicletas dividem cada vez mais espaço nas ruas. Dados da pesquisa Perfil Ciclista Brasileiro 2021 trazem números que mostram esse avanço em todo o país: 72,5% pedalam cinco dias ou mais por semana, sendo o local de trabalho o principal destino.
“Para as pessoas que utilizam, é importante ter essa diversidade de opções para que possa escolher o que melhor se adapta ao seu deslocamento, a sua necessidade, e às vezes até integrar, fazendo um trecho que é mais fácil de bicicleta, trocar pelo metrô com um bicicletário confortável de fácil acesso. Então é importante avançarmos em questões de deslocamentos saudáveis e sustentáveis para as pessoas”, considera o geógrafo Rafael Calabria.
E falando de meio de transporte amigo do meio ambiente, a equipe do Agronomia Sustentável visitou a cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo, para conhecer a linha de ônibus 100% verde. O município é o primeiro da América Latina a contar com esse tipo de veículo elétrico para o transporte de massa.
Até mesmo determinados trechos em que o veículo percorre é sustentável, sendo feito com asfalto composto com borracha de pneu triturada.
Tecnologia voltada à mobilidade urbana
Para otimizar o tempo dos usuários que dependem do transporte público, foi criado um sistema de bilhetagem digital que já opera em quatro estados (Minas Gerais, São paulo, Paraná e Santa Catarina). Esse tipo de produto exige o conhecimento de engenheiros, como o de computação.
Profissional dessa área, Marcelo Guedes, conta que por meio do aplicativo do sistema (chamado On Board), o usuário consegue planejar a sua viagem diária, bem como seu orçamento de passagens de ônibus, fazendo todo o processo de compra no aplicativo, sem precisar ir em guichê para realizar a compra ou adquirir um cartão, ele consegue fazer tudo pelo celular”, conta.
De acordo com ele, a engenharia de computação garante a integração do sistema na ponta, ou seja, do aparelho que está no ônibus com a internet, o sistema de conexão com o aplicativo que está na mão de cada usuário e com o software de coordenação e administração localizado na operadora.
Além da computação, as engenharias eletrônica e mecânica também foram essenciais ao desenvolvimento do projeto. “A engenharia mecânica trabalha para garantir um produto que seja resistente e robusto especialmente em um cenário de uso dentro de um ônibus”, explica Guedes.
Com o sistema pronto, a engenharia de produção passa a ser responsável por fabricar o produto em larga escala. O engenheiro elétrico Leandro Menis, que gerencia a equipe, explica que conta com software de sistema de produção, de matéria-prima, bem como é feita uma larga bateria de testes com controle de qualidade. “Temos instaladas cerca de 250 unidades em funcionamento. Este ano temos um novo lote de produção onde a meta é 500 por mês e, no ano que vem, vamos atingir mil unidades por mês”, enumera.
Modelo para o mundo
Impossível falar em mobilidade urbana no Brasil sem citar Curitiba, a capital do Paraná. Por lá, há mais de três décadas foram implantados longos eixos que abrangem todas as regiões da cidade.
“Esse corredor foi implantado no início da década de 1970 com o objetivo de segregar o transporte coletivo de forma que o tráfego de ônibus fique separado do trânsito convencional da cidade, o que faz com que o sistema de transporte ganhe em velocidade operacional, ou seja, revertendo em um deslocamento mais rápido para os usuários”, diz o engenheiro civil Márcio Teixeira, que trabalha há 15 anos no órgão de planejamento urbano do município.
Os corredores exclusivos para o tráfego de ônibus de Curitiba, apelidados de canaleta, fizeram tanto sucesso que foram replicados em 182 municípios em todos os continentes que, juntos, transportam quase 32 milhões de pessoas por dia.
“Curitiba sempre teve uma visão multimodal. Há investimentos para todas as áreas, inclusive para o transporte não motorizado, como biciletas. Os nossos corredores BRT são providos de ciclofaixa. Além disso, tem toda a questão da acessibilidade pensada. Então essa multimodalidade é sempre atrelada ao transporte público”, informa.
Segundo ele, a meta é que até 2025, boa parte dos ônibus bi-articulados que circulam pelos corredores curitibanos seja 100% elétrico.
O próximo episódio do programa destaca o potencial da agricultura familiar no Paraná e como as cooperativas influenciam no crescimento do setor. O programa Agronomia Sustentável é uma realização do Conselho Federal e Regional de Engenharia e Agronomia (Confea e Crea), Mútua e Canal Rural e vai ao ar todos os sábados, às 9h (horário de Brasília), com reprises aos domingos, às 7h30.