Estudo alerta para possível desertificação da Amazônia | Canal Rural Paste this at the end of the tag in your AMP page, but only if missing and only once.

Estudo alerta para possível desertificação da Amazônia

Floresta pode se tornar savana se o desmatamento chegar a 50% da área original da regiãoCerca de 20% da cobertura original da Amazônia já foi destruída. O desmatamento de mais 30% causará mudanças irreversíveis no bioma, extinguindo a parte oriental da floresta, de acordo com um novo modelo desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O modelo, resultado da tese de doutorado defendida por Gilvan Sampaio, em março, no Inpe, foi apresentado pelo pesquisador, na semana passada, na Conferência Internacional Amazônia em Perspectiva, em Manaus. O estudo foi orientado por Carlos Afonso Nobre e Prakki Satyamurty, ambos pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Nobre também é coordenador executivo do Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais.

De acordo com Sampaio, o estudo analisou a situação do bioma em um intervalo de 24 anos e mostrou que, se o desmatamento chegar a 50% da área original da Amazônia, a região leste da floresta se transformará em savana. O Nordeste do país também sofrerá impactos importantes, com avanço acelerado da desertificação.

? Descobrimos que um desmatamento acima de 50% estabeleceria um novo estado de equilíbrio na Amazônia, dando ao bioma uma configuração irreversível. Essa cifra representa a transição para um ponto sem retorno ? disse Sampaio à Agência Fapesp.

A principal novidade do novo modelo, segundo ele, é articular cenários de clima e vegetação, ao contrário dos modelos convencionais, nos quais a vegetação não passa de um dado estático.

? É comum que se pense que a floresta, depois de cortada, vá se regenerar. Mas o clima depende da vegetação tanto como ela depende do clima. Quando a vegetação é eliminada, a partir de um certo ponto, o clima também muda. Com isso, a situação anterior não volta mais ? explicou.

Outro engano comum, segundo Sampaio, é pensar que a savanização consistiria em transformar a floresta em cerrado.

? O cerrado é um bioma muito rico em comparação com a savana. O resultado seria uma savana muito mais empobrecida. Com o desaparecimento da floresta no oriente da Amazônia, o processo de desertificação do Nordeste seria bastante acelerado ? disse.
No estudo, Sampaio utilizou cenários de mudanças climáticas e de mudanças no uso do solo considerando áreas de desflorestamento equivalentes a 20%, 40%, 50%, 60%, 80% e 100% da cobertura original da Amazônia. A simulação de desmatamento foi projetada para o futuro considerando que se mantenham as atuais tendências.

? Rodamos o modelo climático inserindo perturbações causadas pela mudança na vegetação. Para isso, utilizamos os cenários partindo de condições extremas. Se partirmos de 100% de cobertura, quando passamos de 40% já chegamos a outro estado de equilíbrio, com savanização do leste. Se partirmos do deserto total e adicionarmos florestas, o sistema chega a um estado de equilíbrio quando atingimos 50% de florestas. Ou seja, esse número está consolidado como o ponto de não-retorno ? afirmou.

Os resultados para a Amazônia oriental, onde se espera o maior nível de mudanças na cobertura do solo durante este século, mostram um aumento na temperatura próxima à superfície da floresta e queda nos índices de precipitação e evapotranspiração.

Sampaio afirma que uma das principais conclusões do estudo é que, para atingir o novo equilíbrio ? com alterações irreversíveis ? não importa a geografia do desmatamento. O que importa é a quantidade da área desmatada.

? Fizemos simulações randômicas e notamos que não há muita diferença em tirar do leste ou do oeste. O que faz diferença é a quantidade. Desmatando em qualquer lugar, o ponto de não-retorno era atingido quando chegávamos a cerca de 50%. Por outro lado, o leste, mais ameaçado, sofreria a maior parte das conseqüências. A floresta permaneceria no oeste mesmo no novo equilíbrio climático ? destacou.

Sair da versão mobile