Ministérios concluem estudo para rever índice de produtividade no campo

Parlamentares ligados ao agronegócio pressionam contra revisão dos númerosA guerra pela atualização dos índices de produtividade dos campos brasileiros recomeçou em Brasília. Concluída pelos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (MDA), a proposta deve ser apresentada ainda nesta semana no Conselho Nacional de Política Agrícola. A bancada ruralista, no entanto, ameaça paralisar os trabalhos na Câmara dos Deputados se o governo federal não desistir da revisão dos números.

Esses índices servem como padrão para o processo de desapropriação de terras para reforma agrária. Os dados utilizados atualmente ainda são da década de 70, o que, segundo análise do MDA, dificulta o trabalho do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Como os índices atuais são considerados defasados diante do alto rendimento alcançado pelas propriedades rurais, dificilmente o governo consegue enquadrar uma área como improdutiva.

Há três anos, foi feito um primeiro estudo, mas a pressão da bancada ruralista prevaleceu e o assunto foi engavetado. Com o segundo estudo, a polêmica está de volta.

Conforme cálculo do governo, o primeiro, se entrasse em vigor, poderia render cerca de 33 mil hectares em desapropriações no Estado ? equivalente a mil vezes a área do Parque da Redenção, em Porto Alegre. No segundo estudo, não houve autorização para se fazer tal projeção, para evitar pressões.

O ministro do MDA, Guilherme Cassel, considera a nova proposta conservadora. Nas negociações com o Ministério da Agricultura ficou acertado que o ajuste de cada índice não poderia chegar ao dobro dos valores atuais.

No novo mapa, as áreas rurais de todo o país foram divididas em microrregiões, de tal forma que a produtividade varia de acordo com as características da região e do tipo de produção.

? E ainda será levado em consideração se a região enfrentou algum problema climático, como o caso de Santa Catarina. Por mim, assinava as novas regras imediatamente ? afirma Cassel.

Além de ser apresentado ao Conselho Nacional de Política Agrícola, a mudança dos índices precisa ser oficializada por meio de uma portaria assinada por Cassel e pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Se aprovadas, as mudanças passariam a valer a partir da safra 2009/2010.

Líderes da bancada ruralista na Câmara, no entanto, nem mesmo querem conhecer a proposta. Parlamentares argumentam que o governo não pode exigir ampliação nos níveis de produtividade durante a crise econômica. A previsão para a safra 2008/2009 é de manutenção ou queda de até 2% na colheita.

? O que eles querem é desapropriar terra. Não é hora de se falar neste assunto. No Rio Grande do Sul tem cooperativa quebrando e produtor sem dinheiro para pagar adubo ? reclama o deputado Luis Carlos Heinze (PP).

A pressão dos deputados foi tanta que a reunião do conselho marcada para hoje foi adiada. Cassel e Stephanes devem combinar uma nova data.

Cassel: “É uma determinação do presidente Lula”

À frente do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o gaúcho Guilherme Cassel tenta pela segunda vez emplacar a atualização nos índices de produtividade das lavouras brasileiras. Há cerca de três anos, um primeiro estudo foi concluído e encaminhado ao Palácio do Planalto. O esforço, no entanto, foi em vão.

Por pressão da bancada ruralista na Câmara, o projeto foi engavetado. Agora, após mais uma rodada de negociações com o Ministério da Agricultura, uma nova proposta está em discussão. Dessa vez, Cassel acredita que é para valer. A seguir, trechos da entrevista:

Agência RBS ? É a segunda vez que o senhor tenta revisar os índices de produtividade. Desta vez o assunto vai avançar?

Guilherme Cassel ? Sim. É uma determinação do presidente Lula. Há três meses nos reunimos e ele determinou que os ministérios (do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura) chegassem a um acordo técnico. Há 30 dias, conseguimos fechar esse acordo.

Agência RBS ? Por que, então, o estudo ainda não foi divulgado?

Cassel ? O ministro Reinhold Stephanes cumpriu a promessa e convocou a reunião do Conselho Nacional de Política Agrícola para 1º de dezembro (hoje). Mas houve uma pressão medonha de alguns deputados e a reunião foi suspensa. A minha intenção é que o conselho seja convocado ainda nesta semana.

Agência RBS ? Os ruralistas argumentam que o momento de crise econômica não é adequado para revisão de rendimento no campo. O senhor considera o momento propício?

Cassel ? Mas quando o momento é adequado? Os cálculos foram refeitos, os números são conservadores e houve acordo com o Ministério da Agricultura.

Agência RBS ? Essa é uma reivindicação constante dos movimentos sociais. O objetivo dos novos índices é aumentar o número de terras disponíveis para reforma agrária?

Cassel ? Não, o objetivo não é esse. Reajustar esses índices, que estão defasados, é uma obrigação do governo.