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Leite: com o maior custo de produção dos últimos 10 anos, como garantir lucro?

O segundo episódio da série ‘O futuro do leite no Brasil’, mostra que planejamento e gestão podem ajudar produtor neste momento de crise

O custo de produção do leite segue elevados e estão nos maiores patamares dos últimos dez anos. Até mesmo as cooperativas são impactadas pelos altos custos, como é o caso da Colapac, que reúne 150 produtores de nove municípios da região de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo.

“Nesse momento de entressafra, onde o produtor deveria tratar melhor, dar um pouco mais de ração ao seu animal para ele produzir um certo volume, não está conseguindo devido aos custos altos, com isso, a nossa captação de leite está em queda”, avalia Marcelo Bonci, presidente da Colacap.

Para Valter Galvan, sócio do Milkpoint, além dos custos elevados de produção, os valores da arroba também impactam no mercado do leite.

“Uma dificuldade adicional que a gente está vendo no setor este ano é o preço da arroba do boi em relação ao leite. A relação de troca leite/boi já vem desde o ano passado e segue esse ano sendo muito desvantajosa para o leite. Então tem muita vaca morrendo, virando bife”.

Para diminuir o impacto do custo das rações, Joel Dalcin, pecuarista gaúcho arrendou uma pequena área vizinha e plantou soja e milho. Além disso, ele abateu algumas vacas para ter um fôlego no negócio. Mesmo assim, trabalha com uma margem muito apertada.

“Nós chegamos a pagar patamares de R$ 2,3 mil por tonelada de soja recebendo R$ 1,80/R$ 1,90 por litro de leite. Então, se o produtor não migrar um pouco para produzir um pré secado, uma pastagem de qualidade, para ele estocar fazer ele mesmo a comida e tentar reduzir o custo, mesmo que ele tenha um sistema de confinamento, fica complicado”, afirma Dalcin.

Sistema para reduzir custo do leite

No Vale do Paraíba em São Paulo, dois produtores criaram um sistema de parceria entre as duas propriedades. Juntaram patrimônio, trabalho e experiência para tentar reduzir o impacto do custo de produção.

“Eu entro com o gado, com a terra, com as ordenhadeiras, com as estruturas e o outro produtor entra com a mão de obra. Tudo que for gasto aqui a gente reparte e o que sobrar do leite, 60% para mim e 40% para quem está nessa parceria. E das crias a gente reparte meio a meio”, explica o produtor de leite Antônio Ferraz.

Uma das estratégias criadas por Ferraz foi trabalhar melhor o volumoso da vacada, um capim mais rico no rotacionado com irrigação nos piquetes. Nesta época do ano o tifton e o azevém ajudam no trato. “Nós conseguimos ter um custo de produção de 78% do valor, 22% que sobrou a gente repartiu”, relata Antônio Ferraz.

Gestão para enfrentar a crise

Para o agrônomo Felipe Rimkus, estudioso da gestão da propriedade rural, a estratégia e planejamento para enfrentar a seca são a melhor opção para não cair no vermelho.

“A gente tem que aproveitar os momentos de seca para planejar a próxima temporada sem águas. Trabalhar bem os momentos de chuva que nós vamos ter e manter a regularidade da alimentação dos animais. Se o seu animal produz a pasto, vamos pensar numa silagem de capim, numa silagem de cana, vamos imaginar uma irrigação num pastejo e assim por diante”, comenta.

Wander Bastos, presidente do Sindicato Rural de Cruzeiro também aposta na boa gestão da propriedade como instrumento para enfrentar a crise.

“A hora da gestão é fazer valer o planejamento de rebanho. Descartar alguns animais, se for o caso, e até vender um pouco daquela reposição que você não vai precisar. O mercado está aquecido, nós temos visto bons leilões e bons negócios, então é uma alternativa muito boa se capitalizar para passar essa fase”, pontua Bastos.

Para o presidente da Associação Brasileira de Leite (Abraleite) Geraldo Borges, é possível reduzir o custo e ainda aumentar a produtividade no campo.

“A média de produção no agreste subiu muito nos últimos anos com uma boa gestão, implantação de recursos e alimentação mais planejada. O bom resultado é visto mesmo utilizando o que é disponível no agreste, que no caso deles não é a silagem de milho, mas a palma forrageira”, ressalta o presidente da Abraleite.

Para o sócio do Milkpoint Valter Galvan, neste momento, a única alternativa é melhorar a eficiência da porteira para dentro, esperar pela queda dos preços do milho e da soja e, claro, pela recuperação da economia do país.

“Temos uma perspectiva de recuperação da economia. A vacinação está caminhando. Quanto maior o percentual da população vacinada, mais rápido a reabertura da economia, então existe uma perspectiva de reação da economia para o segundo semestre, talvez para último trimestre do ano, o que será muito bom para o nosso setor, porque isso vai refletir em consumo também”, destaca Galvan.