Sete desafios para a safra de soja 2015/2016

Canal Rural entrevistou seis consultores sobre expectativas para a safra 2015/2016 da oleaginosaCom o objetivo de ajudar o produtor na tomada de decisões nos negócios, o Canal Rural questionou analistas de mercado das principais consultorias do Brasil sobre as perspectivas para a safra de soja 2015/2016.

Fonte: Arte/CR

Confira o que eles têm a dizer sobre projeções de área plantada, custo de insumos, anúncio do crédito rural, impactos do El Niño, perspectiva para o dólar, evolução da safra norte-americana, previsão de preços e remuneração ao sojicultor brasileiro.

* A área plantada vai aumentar?
* Há risco de insumos mais caros?
* Como o dólar impactará a safra?
* Qual a consequência da alta de juros?
* Qual a expectativa para o El Niño?
* Como evolui a safra norte-americana?
* Os preços serão remuneradores no Brasil?

Área plantada: aumento de 1,5% a 4%

A tendência geral é de que haja aumento na área plantada de soja, com variação de 1,5% a 4%. A maior estimativa é da Brandalizze Consulting, que projeta mais de 33 milhões de hectares, número pouco superior ao da Agrinvest Commodities, que estima 32,05 milhões de hectares, e ao da Carlos Cogo Consultoria, que prevê uma área de 32,327 milhões de hectares.

– A safra brasileira 2015/2016 está estimada em um recorde de 97,9 milhões de toneladas, 2,6% acima das 95,4 milhões de toneladas produzidas em 2014/2015. As projeções da nossa consultoria indicam uma produção de grãos de 203,5 milhões de toneladas em 2014/2015 e de 203 milhões de toneladas em 2015/2016 – pontua Carlos Cogo.

abertura de novas áreas no Norte do Brasil, além da expansão da região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso, com pastagens degradadas a serem transformadas em lavouras, é o destaque da Safras & Mercado.

– Apesar da tendência de um preço médio mais baixo para a soja em relação a anos anteriores, a oleaginosa permanece trazendo uma melhor remuneração aos produtores se comparada a outros grãos. Isso tende a trazer a manutenção das áreas já semeadas com a oleaginosa em 2014/2015. Acreditamos que um aumento de 2% a 4% da área brasileira é bastante plausível– acrescenta Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras.

O analista Flávio França Jr. indica que embora seja cedo para uma definição, a soja continua atrativa aos produtores brasileiros, especialmente no que diz respeito aos produtos concorrentes, como milho, algodão e arroz.

Insumos: aumento médio de 10% a 30%

Sobre os preços dos insumos, os analistas indicam aumento médio de 10% a 30% na safra 2015/2016. Há atraso na compra de fertilizantes em relação ao mesmo período do ano passado e chance de redução na utilização de insumos na safra de soja.

O analista Brandalizze ressalta que os preços defensivos são formados em dólar, ficando mais caros ao produtor brasileiro diante do atual câmbio. O mesmo ocorre com os defensivos, que na sua percepção tendem a ficar, ao menos, 20% mais caros. A Agrinvest reforça que, no caso dos fertlizantes, cerca de 70% é importado:

– O custo do fertilizante na safra 2014/2015 ficou em R$ 379,75 por hectare e na temporada 2015/2016 esta projetado em R$ 491,91 por hectare, alta de 30%. De acordo com empresas do setor de fertilizantes, a comercialização do adubo para safra 2015/2016 gira em torno de 50% – afirma Marcos Araújo, da Agrinvest.

Carlos Cogo lembra que a maior parte dos insumos comprados para a safra 2014/2015 foi adquirida a uma taxa cambial média de R$ 2,28.

– Com o dólar posicionado ao redor de R$ 3,00, os produtores de grãos terão um acréscimo nas margens de lucratividade para as colheitas de 2015. Entretanto, já há enorme preocupação com a implantação da próxima safra, que deverá ter parte dos insumos reajustados devido à alta do dolar – salienta.

O volume de fertilizantes entregue aos produtores em abril foi 20,9% menor na comparação com o mesmo mês de 2014. No acumulado do ano, o volume também é negativo, 8,7% abaixo do mesmo período do ano passado. No segmento de defensivos, a queda é ainda maior e ultrapassa 15% no primeiro quadrimestre de 2015.

– Tanto fertilizantes como defensivos devem ter preços entre 10% e 20% acima dos praticados no ano passado, sob efeito da alta do dólar – conclui Cogo.

Dólar firme: uma balança para o produtor brasileiro

O dólar valorizado pode tanto contribuir para o aumento da renda dos produtores como onerar ainda mais os custos da safra. A expectativa geral é de que a moeda mantenha-se valorizada ao longo do ano. Apesar de reconhecer os benefícios que a alta do dólar trouxe ao produtor brasileiro, Camilo Motter, da Granoeste, afirma que a instabilidade cambial se revela negativa a longo prazo e aconselha os produtores a atuarem com vendas antecipadas:

– O produtor observa que os custos de produção acompanham o câmbio, mas não sabe se, no futuro, quando colher a safra, o câmbio estará alto o suficiente para remunerar o produto colhido e manter o gap necessário entre preço de venda e custo de produção. Por isso, é recomendável atuar com vendas antecipadas, aproveitando bons momentos e construindo uma média ao longo do ano – alerta.

Luiz Roque, da Safras, afirma que o dólar age como uma balança: valorizado, é bom para a formação do preço de venda, mas ruim para a compra da maior parte dos insumos, desvalorizado age de modo contrário. Ele acredita na valorização da moeda norte-americana ao longo de 2015 e 2016:

– Se não fosse pelo dólar valorizado, o mercado brasileiro estaria praticando preços bem inferiores aos atuais. Nesta temporada 2015/2016, o câmbio tende a ser variável para o mercado interno. Pesando tal balança, vemos ele mais como um aliado do produtor do que como um inimigo– pontua.

– Tanto externamente, como internamente, entendo que a tendência é de câmbio firme e para cima das taxas atuais. Mas claro sempre sujeito a fortes variações e à influência da tentativa do governo em segurar a taxa – opina Flávio França.

Para a Agrinvest, o aumento dos custos de produção, conforme estimativas inicias, é na ordem de 29,5%, estimado em R$ 2.787,07 por hectare em 2015/2016. A consultoria alerta que, por parte dos produtores será necessário mais reais e aumento do capital para produzir na mesma área de produção.

Crédito Rural: alta de juros pesará no bolso

– A resposta para essa pergunta é bem direta: a alta dos juros é ruim para o produtor. A venda de máquinas e implementos para o setor tende naturalmente a cair, além da queda na forte expansão tecnológica que tivemos nos últimos anos. Além disso, os ajustes fiscais que estão sendo implantados no país também pesarão no bolso do produtor, como o aumento de impostos. Infelizmente, ospróximos anos não serão fáceis tratando de economia brasileira– afirma ;Roque, da Safras, acrescentando que a consequência mais grave dos juros altos é sobre os investimentos já que o nível de confiança no setor é baixo.

De acordo com a Agrinvest, os custos de produção poderão ser majorados entre 15% e 20% no caso da soja, o que é dificultado pela alta dos juros no Plano Safra.

– Os juros podem ficar ainda maiores se o produtor depender de recursos a juros livres. Ao invés de pagar de algo entre 7,75% e 8,75%, as taxas podem, na média, chegar a 10% ou a 12%. O produtor sabe que não terá o repasse da inflação para os produtos que colherá, exceto pela ação do câmbio – destaca Marcos Araújo.

Carlos Cogo reforça que as altas taxas de juros do crédito rural vêm acompanhadas do reajuste das tarifas de energia, do óleo diesel, da recomposição dos preços dos fretes, do aumento dos custos com irrigação e da elevação das despesas com mão de obra.

El Niño: pode colaborar com a safra nacional

Ainda é cedo para prever as consequências do El Niño, mas há perspectiva positiva para o desenvolvimento de lavouras no Brasil e nos Estados Unidos, já que a previsão é de um fenômeno moderado.

– A expectativa é que se tenha estações úmidas, mas em um nível normal, embora as precipitações a serem registradas talvez não sejam no volume que os reservatórios precisam – indica Carlos Cogo.

Camilo Motter, da Granoeste, lembra que, de maneira geral, o El Niño traz boas produtividades para as regiões produtoras brasileiras, especialmente até o fim do ano, com as lavouras em plena evolução.

– Para os EUA as perspectivas também são otimistas: o clima corrente é bastante promissor – sinaliza.

Analistas indicam que uma boa performance nos EUA pressiona os preços internacionais da soja. Se ocorrerem irregularidades climáticas, com ralies de preços, os produtores brasileiros podem aproveitar o momento para a venda.

Safra americana: produtor brasileiro deve se manter na soja

A entrada da safra americana deve impactar na formação de preços a partir do segundo semestre. A expecativa geral é de que o bom desempenho mantenhaa pressão negativa sobre os preços. Os analistas não recomendam a troca de cultura, pois acreditam que a soja ainda seja a mais remuneradora para o verão.

– A safra americana por enquanto está bem, mas dificilmente conseguirá repetir o ano passado, quando teve um quadro perfeito. Os produtores americanos não vendem soja se as cotações estiverem abaixo dos US$ 9,50/bushel, assim, o mercado já esta no fundo do poço, abaixo deste valor param as negociações de produto físico ou obrigam a alta nos prêmios para compensar. Os produtores brasileiros não devem mudar [de cultura] por influência dos Estados Unidos. O milho está muito barato e, desta forma, não consegue competir com a soja na safra de verão – aconselha Brandallize.

A Agrinvest trabalha com a perspectiva de aumento da área de soja nos Estados Unidos na ordem de 810 mil hectares, totalizando 35,05 milhões de hectares, gerando potencial de produção de 112 milhões de toneladas de soja na safra 2015/2016.

– Caso ocorra uma forte queda do preço da soja no Mercado Internacional (CBOT) a partir de junho, isso deverá limitar os ânimos dos produtores e também das instituições financeiras, porém a falta de opções de outras culturas a serem plantadas na safra verão do Brasil limita as opções do produtores em migrar para outras culturas – destaca Marcos Araújo.

Carlos Cogo afirma que, no médio e longo prazo, a projeção de uma terceira safra consecutiva em níveis elevados nos Estados Unidos deve manter os preços futuros pressionados na Bolsa de Chicago. Ele destaca, ainda, que em caso de preços futuros abaixo da linha de US$ 9,50 por bushel em Chicago,nas regiões produtoras mais distantes dos portos, como o Médio Norte de Mato Grosso, a lucratividade pode ficar negativa.

– Se isso ocorrer, a área de soja pode permanecer estagnada no Brasil na safra 2015/2016, mas, por ora, não acreditamos em recuos – confirma.

De acordo com a Safras, se a safra norte-americana ficar novamente acima de 100 milhões de toneladas, os contratos em Chicago sofrerão uma nova pressão negativa, mas a consultorianão vê espaço para transferências de áreas de soja para outras culturas. Na percepção da Granoeste, é restrito o espaço para quedas muito acentuadas das cotações devido aos custos de produção, que subiram drasticamente nos últimos anos.

Preços: remuneração positiva em margens apertadas

A perspectiva da maioria dos analistas é que a cultura da soja continue remunerando os produtores. As ponderações levam em consideração o fator dólar e os riscos climáticos, mesmo diante de bom desenvolvimento das lavouras americanas até o momento com perspectiva de ampla oferta. A lucratividade deverá ser mais apertada para polos produtivos com logística deficiente.

Flávio França afirma que, se a safra dos EUA confirmar cheia, os preços médios na CBOT em 2015/16 (a partir de ago/set) tendem a ser menores que os de 2014/2015. Ele pondera que a taxa de câmbio ainda permitirá preços em reais positivos, ainda que abaixo de 2015, mas com margens bem mais apertadas, onde será fundamental a obtenção de elevada produtividade média.

– Entendo que se o produtor tiver limitação de recursos, melhor segurar o avanço da área e investir bem na área plantada – opina.

Brandalizze concorda que a safra será remuneradora, mas com “margens apertadas”. Marcos Araújo destaca a boa remuneração que pode haver em locais de logística favorável, como o Sul do país.

– O efeito da curva futura de preço do dólar é um fator que beneficia e muito o sojicultor, e este deve aproveitar – analisa Araújo.

A percepção é a mesma da consultoria Granoeste, que indica que se produtores norte-americanos, brasileiros e argentinos colherem uma safra cheia, o cenário para preços será muito negativo:

– Acredito que, com produção dentro da normalidade, os agricultores das regiões mais distantes e, por consequência com custo mais altos e preços mais baixos, começarão a ter sérias dificuldades em construir renda adequada para se manter na atividade – reflete Camilo Motter.

De acordo com Cogo, as margens de rentabilidade dos principais cultivos de grãos deverão permanecer positivas na temporada 2015/2016, mas bem abaixo dos resultados dos últimos cinco ciclos. Ele sugere que o produtor foque na manutenção dos elevados índices de produtividade:

– A margem Ebitda (geração operacional de caixa na atividade, sem levar em consideração os efeitos financeiros e impostos) ainda seria bastante satisfatória para uma lavoura de soja no Cerrado, estimada em 19,6% para 2015/2016, mas bem abaixo dos 35,5% em 2015 e dos 45,4% em 2014. Nesse cenário, os agricultores tenderão a se manter cautelosos, focados na manutenção de índices elevados de produtividade. Em dólares, os custos ficarão menores na próxima safra 2015/2016, uma vez que as aquisições de insumos e demais despesas da safra que está sendo colhida foram efetuadas a uma taxa média de câmbio de R$ 2,28 – conclui.

Para a Safras, a valorização da moeda norte-americana também tende a sustentar, em parte, as cotações praticadas no mercado interno e qualquer eventual problema climático nos Estados Unidos poderá trazer fôlego para Chicago.

– O produtor deve ficar atento às variáveis do mercado externo e interno para aproveitar os melhores momentos para negociação. No caso da economia brasileira, não há muito o que o produtor pode fazer além de planejar os próximos passos. Não será uma safra tão remuneradora como as últimas safras, mas com planejamento, assessoria e atenção não há por que se assustar – aconselha Roque.