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Contra aumento de ICMS, agro prepara tratoraço para esta 5ª em cidades de SP

Setor produtivo paulista se mobiliza para protestar contra nova cobrança de impostos sobre insumos agropecuários; confira os preparativos

Tratoraço Canoinhas SC
Foto: Arquivo

O setor produtivo do estado de São Paulo se mobilizou durante os últimos dias e deve promover um tratoraço generalizado pelas cidades do interior contra a nova cobrança de impostos sobre insumos agropecuários.

Na terça-feira, 5, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) esteve reunida mais uma vez com representantes do governo estadual para tentar reverter a situação, mas não houve acordo. No entanto, o governo pediu mais tempo para analisar a proposta apresentada pela entidade.

Sendo assim, a Faesp apoia oficialmente o tratoraço, que tem como principal objetivo “orientar a sociedade sobre os prejuízos que esse aumento de impostos vai trazer. Nós  esperamos que o governo comece a ter sensibilidade, pois o aumento dos insumos terão um efeito ‘cascata’ em toda a cadeia produtiva”, afirma Tirso Meirelles, vice-presidente da entidade.

Confira como estão os preparativos para a mobilização desta quinta-feira em alguns municípios paulistas:

Holambra

Em Holambra, principal polo produtor de flores do Brasil, mais de 500 produtores devem participar do protesto que conta com apoio de cooperativas. A concentração de tratores e veículos agrícolas será em frente ao Moinho Povos Unidos, de onde os produtores sairão em carreata.

São Carlos

Em São Carlos, há uma organização feita por produtores e ao amanhecer, por volta das 7h, devem partir com seus tratores pela Avenida Getúlio Vargas e seguir para avenida São Carlos.

Segundo o produtor local Claudio Di Salvo, o município tem bastante pecuária de corte, avicultura, silvicultura e hortifrutigranjeiros. “Queremos uma reversão deste decreto do governador João Doria”, disse.

Região Noroeste

Produtores rurais de cerca de dez municípios da região de Jales, no noroeste paulista, farão um tratoraço conjunto, partindo de Santa Salete e percorrendo 4 quilômetros, até Urânia, onde vão circular pelo centro. “Já temos confirmados mais de 100 tratores, além de caminhões e carros. Temos produtores que pararam o trabalho na lavoura e vão levar as máquinas ao ato”, afirma o consultor agrícola Flávio Polo, um dos organizadores da mobilização no noroeste paulista.

“Nosso intuito é conscientizar a população de que esse imposto não é cabível, e mostrar a dimensão desse alcance, que caiu sobre o produto primário, mas, lá na frente, vai chegar no consumidor final”, diz Polo.

Produtores de Santa Salete, Urânia, Aspásia, Paranapuã, Santana da Ponte Pensa, Santa Fé do Sul, Jales, Marinópolis e Palmeira D’Oeste vão se concentrar na SP-320, no trevo de Santa Salete, às 7h. Caminhões e veículos seguirão pela rodovia até Urânia, enquanto as máquinas agrícolas, que não foram autorizadas a circular pela pista, vão percorrer uma estrada de terra paralela à SP-320.

Olímpia

O Sindicato Rural de Olímpia – que abrange também os municípios de Altair, Guaraci, Olímpia, Severínia, Cajobi e Embaúba – deve aderir ao movimento em parceria com a Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Olímpia (Olicana). 

O presidente Osmar Antônio Lima destaca que só serão aceitos tratores na carreata, que sairá da Olicana por volta das 7h30. O trajeto ainda está sendo definido. 

A região de Olímpia tem forte produção de cana, mas a soja e o amendoim ganham espaço durante as reformas dos canaviais. Há também cultivo de seringueira e milho, assim como produção de leite.

Tupã

Na cidade de Tupã, ficou definido que haverá protestos, mas não no formato de carreata. Os produtores devem se organizar no trevo da cidade a partir das 7h.

Segundo o presidente do sindicato, Marcio Vassoler, são esperados cerca de 200 produtores da cidade que tem como carro-chefe o amendoim, mas também tem plantios de soja e milho. A pecuária de corte e de leite também é bastante presente. “O aumento de ICMS é algo muito ruim. O produtor vem pagando a conta na pandemia, e agora vem fazer isso, que vai incidir também sobre o consumidor”, diz Vassoler. 

Tietê

Produtores de Tietê vão aderir ao tratoraço nesta quinta-feira. De acordo com o sindicato rural do município, a cobrança de ICMS sobre energia elétrica, que era isenta, vai prejudicar bastante a avicultura local, pois o insumo representa de 15% a 20% dos custos de produção.

“Não é hora de um aumento como esse. Nossos governantes deveriam pensar: ‘pandemia, estamos todos com problemas’. O agro tem segurado as pontas, aumentar o imposto em uma hora dessas é suicídio”, afirma Tony Persona, presidente do Sindicato Rural de Tietê.

Em Tietê, o tratoraço deve acontecer na Avenida Prefeito Antônio Romano Schincariol, que liga o município a Cerquilho. Produtores da outra cidade também devem participar do ato.

Ituverava

Em Ituverava, o encontro vai ocorrer na praça X de Março e também no quilômetro 412 da rodovia Anhanguera. Informações indicam que 20 máquinas vão rumar para praça e, na rodovia, 40 máquinas vão andar por uma fazenda para não atrapalhar o trânsito.

Batatais

O gestor do sindicato rural de Batatais, Rodrigo Marcello Benedini, afirma que já foram confirmadas a participação de 18 máquinas agrícolas e alguns veículos. O encontro será feito em frente à sede do sindicato, que fica na avenida principal da cidade.

Ele calcula que entre 7h15 e 7h30 devem sair em carreata pela avenida. A mobilização deve durar cerca de 1 hora.

Sales Oliveira

Benedini, que é advogado, também assessora o sindicato rural de Sales Oliveira, na mesma região. Nessa cidade, o encontro será na Avenida Mogiana (principal da cidade), em frente à empresa Almaq, às 7h. Ali, segundo ele, os produtores estão ainda mais engajados, com 20 máquinas confirmadas, e estão contando com pessoas a pé e carros também, que vão circular por essa avenida por cerca de 1h ou 1h30.

Araçatuba

Na cidade de Araçatuba, a concentração ocorre no Posto Absoluto, na rodovia Marechal Antônio Rondon por volta das 7h.

Os produtores rurais vão iniciar o protesto na Estação da Paulista, por volta das 8h, e devem passar pelo centro da cidade. Ao todo, 50 tratores foram confirmados segundo informações do presidente do sindicato rural, Syro André de Freitas.

Fartura

De acordo com José da Costa, presidente do sindicato rural local de Fartura, cerca de 50 pessoas, entre pecuaristas, produtores de soja e trigo, devem participar da manifestação. 

“O governo insiste em dizer que isso não se trata de aumento de impostos, que isso é apenas para  retirar benefícios fiscais. Mas o que eles não querem entender é como isso vai impactar no bolso de quem produz. Em Fartura, a produção de leite é um das locomotivas da economia local, produzimos cerca de 16 mil litros por dia, e com a alta do ICMS também sobre a energia elétrica, já tem produtor avaliando se vale a pena ou não continuar na profissão”, diz Costa. 

Ainda de acordo com o presidente do sindicato, o protesto está marcado para acontecer a partir das 13h no centro da cidade. 

Araraquara

Farão manifestação por meio de um tratoraço, já teriam por volta de 30 tratores disponíveis. marcaram encontro às 7h da manhã em frente ao sindicato rural , na av Feijó. Farão um percurso pela cidade, transmitido ao vivo por Facebook.

Franca

Os produtores de Franca vão sair da porta do sindicato, na avenida Wilson Sábio de Mello, por volta das 8h30. Os municípios de  Piracicaba, Barretos, Adamantina e Jaboticabal também já aderiram à manifestação.

Diversos sindicatos já iniciaram a mobilização nesta quarta, 6, colocando faixas pelas cidades e na porta de suas unidades. Esse é o caso do Sindicato Rural de Campinas, Bebedouro, e Indaiatuba. Veja as imagens:

Campinas

Sindicato Rural de Campinas, antes do tratoraço
Foto: Sindicato Rural de Campinas

Indaiatuba

Sindicato Rural de Indaiatuba, prévia do tratoraço
Foto: Sindicato Rural de Indaiatuba

Bebedouro

campanha de mobilização contra aumento de alíquota de ICMS, Sindicato Rural de Bebedouro (SP) , antes do tratoraço
Foto: Sindicato Rural de Bebedouro

Vão se encontrar em frente à loja da Coopercitrus, cooperativa que também está apoiando a mobilização. O sindicato afirma que já tem garantidos  de 40 a50 tratores. Será uma mobilização “parada”, um ato logo na entrada da cidade, perto da Rodovia Armando de Salles Oliveira. Ato deve ocorrer das 10h ao meio-dia.

Sindicatos e cooperativas organizam ‘tratoraço’ contra aumento de ICMS em SP

Entidades unidas

De acordo com o presidente da Faesp,  a elevação dos impostos vai impactar na rentabilidade dos produtores paulistas, que terão a margem reduzida entre 7% a 15%, com a cobrança de ICMS, atingindo especialmente os pequenos produtores, que representam 78% dos agricultores do estado. “Vamos manter as negociações com o governo, mas, diante do cenário, recomendamos que os produtores façam uma melhor gestão do seu negócios, pois os custos vão aumentar e o lucro será cada vez menor”, pontua.

 

A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) também se manifestou por meio de uma  nota de repúdio contra a decisão do governo. “Estudos mostram os efeitos econômicos nefastos dessa decisão, não só em termos de inflação nos preços de bens de primeira necessidade, mas, também, na perda de competitividade das empresas do estado. Devemos olhar para o impacto que isso causará à sociedade paulista e brasileira, no rastro de uma pandemia jamais vista e um cenário traumático marcado pela recessão e o desemprego”, diz a entidade.

A Abag se coloca ao lado das lideranças do agro e dos produtores rurais, pedindo a derrubada da medida.  O presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), Arnaldo Bortoletto, afirma que o setor foi pego de surpresa pelos decretos do governador, já que João Doria, durante a eleição, buscou apoio no setor para se reeleger. “Agora, na primeira chance, ele vem e aumenta a alíquota de um imposto que afeta diretamente o produtor rural”, diz. “É um absurdo”, complementa.

 

Estudo comprova prejuízo

O aumento nas alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em São Paulo, a partir deste mês, pode causar perda de consumo de até R$ 21 bilhões na região Sudeste e redução de R$ 4 bilhões no PIB paulista.

Segundo Talita Priscila Pinto, economista e uma das autoras do levantamento, foi levado em consideração as cinco grandes regiões brasileiras e as principais cadeias do agro. “Sobre o consumo, a queda se explica por duas visões distintas. Na primeira, temos a oferta, que com o aumento do custo de produção, já que alguns que não eram taxados terá aumento de 4%, teremos uma aumento nos preços e, por sua vez, pode afetar na demanda, já que os consumidores terão que reajustar o seu consumo”, disse.

 

Segundo ela, isso pode levar a uma redução de R$ 12 bilhões no consumo no estado de São Paulo e mais de R$ 21 bilhões no Sudeste. “Como o consumo é o maior item do PIB em São Paulo, teremos uma queda de R$ 4 bilhões na região. Podemos sentir isso acontecer ao longo de 2021 ou se estender por 2 ou 3 anos”, completou.

Ela diz que, com esse aumento de impostos, quem sairá mais prejudicado serão as famílias mais pobres. “Quem leva a pior sempre são os mais pobres, pois o valor relativo dos itens ficarão mais caros, incluindo da cesta básica que sofrerá impactos indiretos”, finalizou.