Criadores de gado leiteiro do Rio Grande do Sul usam cruza de raças em busca de maior produtividade

Técnica controversa é utilizada para manter volume regular de produção ao longo do anoEm busca de maior produtividade, criadores de gado leiteiro do Rio Grande do Sul optam cada vez mais por uma técnica que é motivo de polêmica: a cruza das raças holandesa e jersey. Enquanto alguns apostam na prática como forma de manter uma produção média durante o ano, sem ter quedas no volume nos meses mais quentes, outros criticam que ao misturar as raças se perdem as evoluções genéticas alcançadas ao longo dos séculos.

Na propriedade de Fábio Pranke, 43 anos, no interior do município de Sinimbu, no Rio Grande do Sul, essa prática já é utilizada há 10 anos.

? Antes, durante o verão, tinha uma redução de 20% na produção porque a holandesa é mais sensível ao calor. Hoje, consigo evitar isso e tenho um leite com mais sólidos, que pesa mais na hora da venda ? afirma Pranke.

Com 15 vacas, a produção na propriedade é de 9 mil litros por mês.

Motivados pelos bons resultados no tambo, a procura pela prática tem aumentado entre os produtores, aponta o técnico da Emater regional de Estrela, Martin Wanderer. A principal vantagem da cruza, segundo ele, é a maior resistência do animal.

? A raça holandesa durante o período de calor também tem baixo índice de prenhes, por ser mais sensível. Com esse cruzamento, o produtor consegue evitar isso ? destaca Wanderer.

A primeira inseminação é feita na vaca holandesa, devido ao tamanho dos animais. A prática resulta em um animal menor.

? Para quem trabalha com leite a pasto é outro benefício porque o animal menor caminha mais, aproveita melhor, enquanto o holandês, por ser mais pesado, se desloca menos ? pondera Wanderer.

Mas a estratégia é considerada controversa. Enquanto a Associação de Criadores de Gado Jersey do Rio Grande do Sul apoia a iniciativa, a Gadolando, entidade representativa dos criadores de gado holandês do Estado, é contrária.

Fernando Muller, presidente do jersey, destaca que a cruza tem se tornado prática em outros países como nos Estados Unidos e no Canadá.

? O jersey é um gado que tem um leite com 30% a mais de cálcio e 18% a mais de sólidos em relação ao holandês. Dependendo do local, essa cruza pode trazer benefícios para o produtor ? explica.

O presidente da Gadolando, José Ernesto Ferreira, contesta a alternativa:

? Não vejo benefícios que possam ser obtidos com essa prática. O único método aceito e razoável para ter esse mesmo aumento de sólidos é a mistura do leite jersey e holandês no tanque, mas não cruzando as raças. Isso termina em cinco minutos com um aprimoramento de cem anos.

Com um rebanho de 550 animais da raça holandês e cem jersey e uma produção diária de 6,5 mil litros, o premiadíssimo criador Ricardo Biesdorf, de Eldorado do Sul, faz elogios ao animal que resulta da cruza das raças.

? São exemplares com uma excelente capacidade leiteira, mais rústicos, com uma produção equilibrada e ainda rica em gorduras e proteínas ? destaca o criador.

Em sua cabanha, como trabalha com animais registrados e em busca de melhoramento genético das raças puras, Biesdorf não costuma utilizar a técnica. Ainda assim, em casos especiais, acaba adotando o cruzamento para antecipar e facilitar partos nas novilhas holandesas, com menos de dois anos, já que a cria que resulta da inseminação com jersey é menor. Quando a vaca holandesa apresenta problema de reprodução, o criador também faz a inseminação com jersey, aumentando as chances de prenhes.