Planejamento garante alimentação do rebanho na estiagem

Criadores na Fazenda Içó, em Juazeiro, já estão usando alimentação armazenada para nutrir os animaisPor causa da estiagem na região norte da Bahia, criadores de caprinos e ovinos situados na Fazenda Içó, em Juazeiro, já estão usando alimentação armazenada para nutrir os animais.

? A pastagem nativa é muito pobre em nutrientes nesse período e não supre a necessidade dos animais ? diz o engenheiro agrônomo da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola), José Hugo Félix Borges.

Por isso, é importante complementar a alimentação com forragem. Os criadores plantaram, colheram e guardaram sorgo, maniçoba, capim búfel, mandioca e melancia forrageira.

O trabalho de manejo com animais feito na Fazenda Icó tem ajudado na organização dos produtores da região de Juazeiro. O trabalho é fruto da parceria entre o Sebrae e instituições como a Fundação Banco do Brasil (FBB). Cerca de 60% da estrutura física da propriedade, concebida em 2004, foi adquirida através de um convênio com a FBB, que formalizou uma adesão diferenciada ao projeto, não só viabilizando recursos, mas investindo também na mobilização social do lugar.

A fazenda-modelo é administrada por um grupo gestor representando 39 comunidades do distrito rural de Itamotinga. Mais de 1,7 mil pessoas se beneficiam dos aprendizados compartilhados sobre criação de caprinos e ovinos. Também são parceiros neste projeto a prefeitura de Juazeiro, Embrapa, Uneb (Universidade do Estado da Bahia), Banco do Nordeste, Governo do Estado da Bahia e Adab (Agência Estadual de Defesa Agropecuária).

Este ano, numa área coletiva de nove hectares, os produtores plantaram a forragem que está sendo útil nesse período seco. Além da área da fazenda, em outras dez comunidades houve planejamento para o plantio.

? Antes, a gente deixava de vender animais na seca porque eles não engordavam o suficiente pro abate ? avalia a presidente do grupo gestor da Fazenda Icó, Marlene Roriz.

Com esse trabalho, um novo conceito de mercado vem sendo vivenciado com quem tinha a preocupação somente de tentar salvar os animais.

? Estamos oferecendo subsídios para que o criador perceba oportunidades de bons negócios. No mês de agosto, por exemplo, o consumidor paga mais caro pela carne porque não há oferta de animais. Quando o criador se planeja e mantém a produção regular ele tem condições de aproveitar essa janela ? avalia o analista do Sebrae, Carlos Robério Araújo, lembrando que os resultados começam a surgir aos poucos.

Pouca chuva – Num ano em que os índices pluviométricos ficam bem abaixo da média, como este de 2010, a conservação e armazenamento de forragem são imprescindíveis. De acordo com o laboratório de meteorologia da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), de janeiro a junho deste ano, em Juazeiro, as chuvas ficaram bem abaixo da média.

? O registro é de 211 milímetros. Apenas 60% do que já deveria ter chovido no primeiro semestre ? aponta o meteorologista Mário Miranda.

A garantia de mais de 20 toneladas de alimento para os animais dos produtores associados da Fazenda Icó foi, em parte, também resultado da insistência. Nos primeiros meses do ano, quando começaram a plantar, a chuva não veio e eles perderam o que haviam semeado, mas voltaram a cultivar a terra. O mês de abril concentrou boa parte da chuva do semestre e foi, literalmente, a “salvação da lavoura”.