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Arroz: preço mais do que dobra e produtor recompõe margens na pandemia

De acordo com o presidente da Federarroz, a alta é atribuída a uma combinação de fatores, uma tempestade perfeita que favoreceu o setor

O auxílio emergencial aumentou o consumo e os preços de praticamente todos os alimentos, especialmente daqueles que compõem a cesta básica. Na primeira reportagem da série “Produção e consumo dos alimentos na pandemia”, o Canal Rural fala sobre o arroz, que foi um dos campeões de valorização. Segundo análise da Cogo – Inteligência em Agronegócio, o preço do grão aumentou de 120,4% em um ano.

De acordo com o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, a alta é atribuída a uma combinação de fatores, a chamada “tempestade perfeita” que favoreceu o setor.

“Grandes países produtores, como China, Índia e Vietnã, seguraram parte de suas produções para garantir a segurança alimentar. O câmbio acima de R$ 5 favoreceu uma exportação maior e ainda tivemos um aumento no consumo, se fala em torno de 5%, em função da mudança de comportamento das pessoas que ficaram mais tempo em casa consumindo alimentos, principalmente da cesta básica”, diz.

O aumento da demanda desabasteceu o varejo. As indústrias foram obrigadas a aumentar o valor pago pelo cereal. Contudo, a maioria dos produtores não conseguiu embolsar toda essa valorização. “Só 10$ a 15% dos produtores tinham arroz para vender a R$ 100. A maioria vendeu no primeiro semestre, então não fez R$ 60”, disse Alexandre Velho.

Antes da pandemia, o consumidor pagava por um pacote de arroz de 5 quilos, em torno de R$ 10 e R$ 15. Com a chegada do Covid-19, o mesmo produto passou a ser vendido até a R$ 40. Nos últimos mês, o preço vem sofrendo uma acomodação, mas atingiu um outro novo patamar entre R$ 20 e R$ 25. Valor que dá ao produtor a possibilidade de recuperar um pouco o prejuízo das últimas safras e o otimismo para continuar na atividade.

“O arroz tem um alto custo de produção. Você gasta R$ 7 mil por hectare no mínimo. Isso vem em boa hora porque boa parte dos produtores estavam abandonando a atividade. Os custos fizeram com que de 30% a 35% migrassem para a soja”, afirma o presidente da Federarroz.

Segundo ele, o setor acredita em um cenário positivo em 2021. Ele estima que a próxima safra gaúcha seja de 7, 5 milhões de toneladas, 500 mil toneladas a menos em comparação a passada. O estoque está praticamente zerado, o dólar continua acima de R$ 5, o que favorece exportação. Tudo isso deve garantir ao arroz um preço justo.