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Leite: após cinco meses em alta, preço deve recuar até 7% em novembro

Aumento leve na produção e dificuldade de a indústria repassar valores aos consumidores pressionam as cotações

Após cinco meses de alta, o preço do leite deve cair em novembro. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o valor pago ao produtor em novembro, referente à captação de outubro, pode ficar entre 5% e 7% abaixo do registrado no mês anterior.

Segundo a entidade, os valores do leite no campo obedecem a uma tendência sazonal, relacionada às disponibilidades de chuvas e pastagem. “Isso significa que, tipicamente, é esperado que, no fim do ano, ocorra essa inversão da tendência”, diz, em boletim.

No entanto, em 2020, a retomada da produção não tem ocorrido de forma intensa, já que as condições climáticas foram menos favoráveis. “Mesmo assim, nas primeira e segunda quinzenas de outubro, houve maior oferta de leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais, de modo que a média mensal caiu 16,8% frente à de setembro/20, indo para R$ 2,23/litro”, informa.

Mas, de acordo com agentes consultados pelo Cepea, a redução das cotações no campo esteve mais atrelada à pressão dos canais de distribuição sobre as negociações de lácteos com as indústrias, uma vez que o consumo esteve enfraquecido, em função dos altos patamares de preços atingidos pelos derivados nos últimos meses. Como consequência, houve a diminuição dos preços médios de derivados importantes para a formação do preço ao produtor, como leite longa vida (UHT), muçarela e leite em pó em outubro

“É importante destacar que, mesmo com estoques enxutos de lácteos, a valorização intensa de vários gêneros alimentícios nos últimos meses tem pesado sobre a decisão de consumo do brasileiro, o que também resulta em maior competição entre redes varejistas para atrair clientes com preços baixos”, destaca.

Perspectivas para o preço do leite

A grande dificuldade para o setor neste final de ano está em equalizar a demanda, sensível aos elevados patamares de preços dos lácteos, com a oferta que deve seguir restrita, já que a ocorrência de La Niña deve impactar negativamente a atividade leiteira nos próximos meses. A

lém disso, as expressivas altas dos custos de produção nos últimos meses (atreladas, sobretudo, à valorização dos grãos) impossibilitam investimentos na atividade, além de já comprometerem as margens dos produtores, visto que ocorrem em um momento muito sensível de redução da receita.

“Outro agravante para a situação é a valorização da arroba nos últimos meses, que acaba estimulando o abate de fêmeas. Assim, a produção de leite pode não se recuperar no verão, como em outros anos, o que pode frear o movimento de queda no campo”, chama atenção.

Pesquisas do Cepea apontam que, na primeira quinzena de novembro, a demanda por derivados seguiu enfraquecida. As médias parciais para novembro (considerando dados até 13/11) foram de R$ 2,95/litro para o leite UHT, de R$ 25,07/kg para o queijo muçarela e de R$ 23,47/kg para o leite em pó (400g), valores 6,2%, 5,8% e 3% menores que as respectivas médias mensais de outubro de 2020.

Agentes consultados pelo Cepea informaram, contudo, que os estoques de derivados seguiram reduzidos, o que pode limitar o movimento de queda e/ou sustentar as cotações na segunda quinzena do mês.

Importações de leite

Depois de cinco meses consecutivos de aumento nas importações de lácteos, em outubro, o total adquirido pelo Brasil recuou 3,5% frente ao mês anterior, com volume de 22,3 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

A queda nas importações esteve associada à diminuição nas compras de queijos e do soro de leite. Além disso, o dólar valorizado (média de R$ 5,63 em outubro) e os consequentes patamares elevados das cotações no mercado externo levaram importadores a reduzirem as aquisições.

As aquisições dos queijos somaram 3,8 mil toneladas, enquanto as do soro de leite foram de 1,8 mil toneladas, recuos de 2,5% e 28,6%, respectivamente, na comparação com o mês anterior. Por outro lado, a importação de leite em pó, que representou 73,7% das compras, totalizou 16,5 mil toneladas, com elevação de apenas 1,1% em relação a setembro de 2020 e fortes 216,6% acima do registrado no mesmo período de 2019.

Quanto às exportações brasileiras de derivados lácteos, o volume aumentou 27,6% em relação a setembro, totalizando 3,57 mil toneladas. Até agora, outubro foi o mês com a maior quantidade vendida no mercado internacional neste ano. Este cenário esteve atrelado ao aumento dos embarques de leite condensado, que duplicaram de setembro para outubro, com total de 1,5 mil toneladas.

Os principais destinos foram o Chile e Trinidad e Tobago, adquirindo 30,8% e 28,4% dessa quantidade, respectivamente. O recuo nas cotações de derivados lácteos no mercado doméstico e a taxa de câmbio atrativa também impulsionaram as exportações nacionais em outubro, mesmo com a oferta de matéria-prima limitada. Quanto ao leite em pó, as vendas subiram 446% frente a setembro, totalizando 54 toneladas – com representação de 1,5% das compras.