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Agro foi único setor a contratar mais que demitir em maio; veja tendência

Estudo do Cepea indica que população empregada na agropecuária atinge menor patamar da série histórica, mas vagas formais mostram alento para o agronegócio

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) do IBGE, a população ocupada na agropecuária foi de 7,99 milhões no trimestre encerrado em maio, a menor da série histórica iniciada em 2012. O número representa uma queda de 2,1% ante o trimestre imediatamente anterior, o que representa 173 mil postos de trabalho fechados no setor. Na comparação anual, o recuo foi ainda maior, de 6,8%, equivalente a 580 mil pessoas.

Esses dados mostram que, apesar de o agro ter se mostrado resiliente durante a crise em termos de produção, o mercado de trabalho no setor foi bastante impactado, ainda que em menor grau que outros setores como comércio, construção, alojamento e serviços domésticos por exemplo.

Vagas formais mostram alento para o agro

Em relação a vagas formais de trabalho, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério da Economia no último dia 29, mostram um alento para a agropecuária. Em maio, o setor foi o único a contratar mais que demitir, considerando postos formais, com 15.993 novas vagas. Como comparação, o setor de serviços teve saldo negativo de 143.479 vagas.

Efeito da pandemia

A pesquisadora Nicole Rennó, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), destacou que o estudo tenta estimar o quanto das 580 mil vagas encerradas na comparação anual têm relação com a pandemia do novo coronavírus. A conclusão é de que a população empregada na agropecuária observada no trimestre encerrado em maio ficou 4,4% abaixo do que era esperado no período, com base na sazonalidade observada historicamente. Isto é, do total de vagas fechadas, 365 mil podem ser relacionadas de alguma forma aos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

Tendência para os próximos meses

Rennó afirma que a pesquisa do Caged e a da PNAD cobrem universos diferentes. De maneira que, apesar do avanço das vagas formais em maio, é provável que as grandes perdas tenham ocorrido em postos de trabalho sem carteira assinada, ou de produtores que trabalham por conta própria com a ajuda da família.

A pesquisadora lembra que a tendência de diminuição da população empregada no agro vem de longa data e está ligada à modernização e competitividade do setor. No entanto, como o próprio estudo demonstrou, a pandemia acentuou o movimento neste ano.

Para os próximos meses, Rennó acredita que deve haver uma grande diferença de dinâmica para o mercado de trabalho dentro e fora da porteira. Para o setor agropecuário, dentro da porteira, a perspectiva é mais positiva, havendo a sensação de que o pior já pode ter passado entre abril e maio. A projeção agora seria de uma possível estabilidade no curto prazo, ainda que a situação seja incerta.

Segundo a pesquisadora, o que explica essa tendência é o fato de que a cenário para grãos e pecuária é positivo, com rentabilidade alta, o que pode levar à manutenção de empregos. Além disso, o nível de ocupação dentro da porteira costuma ser menos afetado em períodos de crise, porque o produtor que trabalha por conta própria com a família depende daquele faturamento, e portanto, não abandona a atividade com facilidade.

Por outro lado, é importante lembrar os riscos que a interiorização da pandemia podem causar nesse cenário. Rennó lembra o exemplo da produção de café, que os produtores reportaram dificuldade de transporte com a mão de obra e que isso pode afetar algumas outras culturas, trazendo incerteza para previsões de recuperação. Bem como os setores de horticultura e fruticultura, que têm sido os mais impactados pela pandemia.

Fora da porteira a avaliação é um pouco mais complicada. Temos dados até abril da agroindústria e vimos grandes quedas de produção entre empregadores relevantes, como os setores de madeira, biocombustíveis, têxtil e vestuário e de bebidas. Ainda não há dados oficiais de mercado de trabalho destes setores. Apenas como referência, até o primeiro trimestre, houve geração de 1,6 milhão de postos nesses ramos. Nicole Rennó lembra que neste caso não há a resiliência que há dentro da porteira. De forma que o perfil mais sensível na agroindústria é o do trabalhador sem vínculo formal, com escolaridade menor que a média.