Crise no setor sucroenergético gera protesto em Sertãozinho (SP)

Ato foi contra a crise no setor produtivo de açúcar e álcool, que provoca demissões na indústria de base e usinas locaisCerca de nove mil pessoas se reuniram na manhã desta terça, dia 27, no trevo de acesso à Sertãozinho, em São Paulo, na Rodovia Armando Salles de Oliveira, em protesto contra a crise no setor produtivo de açúcar e álcool.

O setor contabiliza inúmeras demissões na indústria de base e usinas locais. Um outro grupo está previsto para se reunir, também pela manhã, e o protesto deve seguir até o cruzamento com outra rodovia, a Carlos Tonani, onde haverá um ato com discursos de representantes do setor.

A Polícia Militar já fechou um dos sentidos da rodovia, mas o trânsito não apresenta congestionamento, já que os veículos estão sendo desviados pela concessionária que administra a estrada para vias marginais ou ainda por avenidas da cidade do interno paulista.

A indústria de base e metalúrgicas dispensaram os funcionários e parte do comércio fechou as portas na cidade. Elas só deverão ser reabertas a partir das 10 horas, quando está previsto o término da manifestação.

– Uma passeata e um ato como esses movimentam a sociedade inteira e sensibilizam mais do que cartinhas e pedidos a deputados – afirmou o secretário municipal da indústria e comércio, Carlos Roberto Liboni, se referindo à série de apelos feita pelos representantes da indústria e local aos governos estadual e federal desde o início da crise do setor sucroenergético, em 2009.

Dados do Ministério do Trabalho mostram que, só em 2014, cerca de  2,2 mil postos de trabalho foram fechados na indústria de Sertãozinho, que é considerada a principal fornecedora de equipamentos para o setor sucroenergético do país.

O secretário explica que o corte corresponde apenas às usinas, indústrias de base como metalúrgicas e de automação e na área agrícola.

– O impacto é muito maior em toda a cadeia de serviços e no comércio da cidade – diz.

Para mitigar a crise, prefeitura, indústrias, empregados e sociedade civil local firmaram um pacto com uma série de ações para atender aos desempregados. Entre elas estão o fornecimento pelas redes de supermercados locais de cestas básicas a preço de custo, a manutenção de convênios médicos e o acordo por parte das indústrias de que demissões não seriam feitas sem prévia negociação. 

Volta da Cide ajudará setor de cana

O secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, afirmou que decisões de fortalecimento do setor estão sendo tomadas pelo governo federal. Jardim disse que a retomada da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina é positiva, mas que precisa ser acompanhada de outras ações para ajudar a mitigar a crise na indústria canavieira.

Entre outras iniciativas, o secretário citou o aumento da mistura do etanol à gasolina de 25% para 27,5%, embora o governo sinalize que esse porcentual deve ficar em, no máximo, 27%.

– Além disso, o governo precisa dar sinais claros de retomada do uso da biomassa como fonte produtora de energia elétrica, com leilões específicos e um piso de preço diferente das outras fontes produtoras – considerou.

Já o presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Manoel Ortolan, ressaltou que a energia elétrica produzida a partir do bagaço de cana seria uma alternativa para a crise energética, pois ela pode ser produzida justamente em época de crise hídrica, como atualmente. Ortolan disse, ainda, que, mais do que um protesto, o ato de hoje em Sertãozinho mostra que “produtores e empresários estão prontos para retomar a indústria de açúcar e álcool e para conclamar o governo à essa retomada”.

O setor enviou uma carta com reivindicações para a recuperação, leia os sete itens destacados:

1. Medidas que garantam a justa remuneração do etanol aos seus produtores, via políticas transparentes de preços públicos, que recuperem o equilíbrio econômico-financeiro de sua industrialização;
2. Medidas que possibilitem a recuperação da oferta agrícola de açúcar, com preços justos aos seus fornecedores, e que permitam resgatar a produtividade dos canaviais, prejudicados pela falta de investimento, além das enormes perdas com o rigor climático das últimas quatro safras;
3. A valorização das externalidades do etanol na montagem da matriz energética brasileira e nas regulações do mercado de combustíveis, com uma expectativa clara e transparente da produção do álcool carburante  que o Brasil necessita;
4. A priorização da cogeração de energia elétrica a partir das usinas, no interesse energético nacional, com leilões específicos por região e fonte, contribuindo, assim, a minimizar os apagões fósseis e hídricos;
5. Investimento em tecnologia, por parte da indústria automotiva, que aumente a eficiência do etanol nos motores flex;
6. Investimentos públicos na retomada do crescimento, buscando recuperar a participação percentual do setor sucroenergético no PIB nacional;
7. Projetos socioeconômicos de qualificação e requalificação, para recuperação de 300 mil postos de trabalho fechados ao longo dos últimos anos.