Agronegócio

Crise hídrica: economista diz não acreditar em racionamento e fala de soluções práticas para o Brasil

Economista-chefe do Banco Original, Marcos Caruso, fala das perspectivas da economia brasileira sob o impacto do desafio energético

No último mês, a inflação registrada no Brasil foi a maior para maio em 25 anos e a energia elétrica foi um dos principais itens que pesou nesta conta. Como estamos exatamente nos meses de estiagem no país, a perspectiva é de que os níveis dos reservatórios continuem em baixa e, para explicar o efeito disso na economia, conversamos com o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso.

Segundo ele, o problema do Brasil não é a falta de energia e, sim, a falta de água. “Chegamos ao mês de seca, com reservatórios a níveis baixos. Na média histórica, daqui até novembro, esse número deve ceder de 10 a 155 pontos percentuais, podendo chegar a níveis muito baixos”.

O temor é de que o país enfrente situação semelhante a de 2001, quando o Brasil passou por “apagões” e teve que enfrentar racionamento de energia. Mas, segundo Caruso, essa possibilidade é bem mais remota na atualidade.

“Não trabalhamos com o risco de racionamento, como foi em 2001. Hoje o brasil é outro e temos várias soluções, como racionalizar melhor, temos ofertas de energia vindas de outras fontes, tem autoprodução de energia. No Sudeste, por exemplo, o uso de um terço da indústria tem uma autoprodução. Não faz sentido ter um racionamento. Mas no fim do dia, essa ainda é uma decisão política”, explicou.

Para Mauro, a incerteza e a elevação no custo da energia pode reduzir a perspectiva de crescimento econômico no Brasil. “Apesar de não termos o racionamento como premissa, a gente fez a conta de impacto para o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro com um eventual racionamento. Em 2021, foram 20% de racionamento. Hoje, para cada 10%, retiraremos do PIB  algo perto de 0,8%. No entanto, com essas medidas de racionalização do uso da energia, o impacto cai para 0,4% em caso de racionamento. Por exemplo: nesse ano esperamos um crescimento de 5,5% sem o racionamento e, se vier um racionamento em cima disso, com essa racionalização do uso de energia, estaremos perto de 5% de crescimento. É relevante, mas é menor do que foi o impacto no passado”.

Impacto no campo

A produção de alimentos é um alicerce muito forte da economia brasileira, mas o valor elevado da energia pode aumentar o custo de produção e impactar o setor. Segundo Marco Caruso, é preciso estudar formas de usar energia alternativa e racionalizar o uso convencional.

“Existem recursos para levar energia ao produtor, como racionalizar o uso da energia. Uma das alternativas é levar o funcionamento da indústria para outro horário, reduzindo assim o consumo no horário de pico. Outra medida é a utilização de fontes alternativas, pois poderíamos não usar apenas as hidrelétricas, como passar a usar também aquelas térmicas, no limite até as usinas de carvão, que a princípio são bastante caras, mas se dobrar essa oferta de energia, consegue conservar quase 10% os níveis de reservatórios”, disse.

Ele ressalta que o Brasil é mais diversificado em termos de fontes de energia no comparativo com 2001. “Hoje, fontes eólicas e solares representam 10% da nossa energia. A solução vem da racionalização e diversificação”, concluiu.