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Feijão: consumo cresce e puxa preço mas produtor acredita em nova alta

O setor produtivo acredita que há espaço para ajustes na saca, levando em consideração o valor com que o pulse chega ao consumidor

Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil em março do ano passado, o feijão foi um dos alimentos mais procurados pelo consumidor para enfrentar o isolamento social.

“A primeira reação é você estocar aquilo que podia ser estocado e que não teria nenhum problema de deterioração. Nós tivemos um aumento de 10% no consumo, pelo menos, entre março e setembro”, diz o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders.

Com a alta demanda, os preços subiram. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em um ano, o feijão preto disparou 40,5%. Já o feijão carioca, que é o mais consumido no Brasil, registrou acréscimo de 12,9%.

Para o produtor de feijão carioca, a alta foi ainda mais expressiva, afirma Lüders. “Em janeiro do ano passado, a saca estava em R$ 194. Agora, em janeiro deste ano, o preço médio ficou em R$ 270, R$ 280. Você tem perto de 50%, de aumento em real”, afirma.

Porém, o produtor de feijão Régis Wilson, de Unaí (MG), conta que a maioria dos agricultores não conseguiram aproveitar esses preços. “Ou se aproveitou, aproveitou com uma quantidade pequena. Todo mundo vinha meio escaldado e optou por garantir com preços a níveis mais baixos”.

Demanda por feijão

Outro fator que impulsionou o consumo de feijão foi o aporte de quase R$ 270 bilhões na economia promovido pelo auxílio emergencial. “Esse dinheiro vai totalmente para a alimentação. E a primeira alimentação básica é o arroz, feijão e farinha”, diz o presidente do Ibrafe.

Lüders também destaca que a oferta um pouco menor, em decorrência de problemas climáticos e competição com a soja por áreas, também colaborou para preços mais altos.

“Historicamente, se você pegar os dados de 2005 para cá, você tem uma saca de feijão valendo 2,43 sacas de soja. Se multiplicar pelo valor da soja hoje, você vê que uma saca de feijão poderia estar custando nessa paridade até R$ 380. A partir do momento que nós temos valorização de outros grãos, o produtor vai buscar o que é mais rentável para ele”, diz.

Projeção para este ano

A expectativa do Wilson é de que o feijão continue valorizado em 2021, principalmente nos próximos 60 dias, quando não há nenhuma safra volumosa a ser negociada.

“A acho que tem espaço para novas altas. Esse preço de R$ 10 o quilo é longe da realidade do produtor hoje. Nós estamos recebendo em torno de R$ 280 a R$ 320 a saca de feijão de melhor qualidade e R$ 280 para o feijão nota 8. Hoje, na nossa região, existe um estoque, mas ele é bem baixo. O produtor vendeu bem esse ano, então acredito sim que tenhamos uma valorização nos próximos meses”, afirma o produtor mineiro.