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China pode abrir mercado para o milho brasileiro? Entenda

Ministério da Agricultura aguarda posição do país asiático para atualizar protocolo que pode facilitar a entrada do cereal do Brasil

Em entrevista ao Mercado & Companhia, o diretor da consultoria Céleres, Anderson Galvão, afirmou que a China pode entrar no mercado brasileiro de milho a partir do ano que vem. De acordo com ele, o gigante asiático pode voltar ao mercado internacional como grande importador da commodity no futuro.

Vale destacar que a China é o segundo maior produtor de milho do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O país asiático já importa uma pequena quantidade do cereal brasileiro. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em 2019, foram embarcadas 68,5 mil toneladas à China, 0,2% do total vendido pelo Brasil no período.

Segundo o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Ribeiro, o protocolo de exportação de milho brasileiro para a China está em processo de atualização. Um dos principais pontos é o que se refere às chamadas pragas quarentenárias. A autoridade sanitária chinesa solicita ao Brasil que adote medidas de controle a essas pragas para não permitir que estejam presentes nos carregamentos. O ministério encaminhou proposta revisada no fim do ano passado e aguarda parecer das autoridades chinesas. “Não basta a boa vontade e a capacidade de negociação da ministra, é preciso que o outro lado esteja disposto a se engajar nestas negociações”, afirma Ribeiro.

Em recente live, o ministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, afirmou que o país asiático tem uma cota de importação de milho. “A China ainda não é um grande importador de milho e ainda temos uma cota de importação. Ainda não é o principal produto do nosso comércio, já que até poucos anos atrás éramos autossuficientes. Ainda estamos no processo de negociar o protocolo entre a China e o Brasil. Neste momento, importamos mais da Ucrânia e dos Estados Unidos. Mas, no futuro, talvez com a conclusão desse protocolo e com recuperação econômica, o milho tem potencial, pois é uma das principais fontes para produzir ração”.

O consultor da Safras & Mercado Paulo Molinari discorda de Galvão e vê a China com estoques suficientes. “China não é grande importadora de milho. Este ano, com a pandemia, o país teve problemas internos de logística e elevou as importações para atender a demanda até o transporte local se regularizar. A China manteve a cota de importação em 7 milhões e se precisasse de maior volume no ano que vem já teria aumentado essa cota. Em todo caso, não há falta de produto no país. Eles aproveitaram para fazer compra pontual dos Estados Unidos para cumprir o acordo comercial”, analisa.

Molinari não descarta entrada dos chineses no mercado brasileiro de milho no longo prazo. “No longo prazo tudo, é possível. Porém, para 2021 e 2022, acho muito difícil a China ser grande compradora de milho no Brasil. É importante que o mercado olhe para outros compradores. A Espanha, por exemplo, foi o principal destino do cereal em agosto e setembro. Ou seja, hoje é até mais importante para os produtores estarem atentos ao mercado espanhol que ao chinês”.

Por fim, o consultor considera as altas recentes dos preços no Brasil já um pouco exageradas. “Não falta milho no Brasil, mas os produtores estão pressionando pela alta do cereal. Os preços já começam a ser limitantes até para as exportações deste ano, inclusive. E 2021 continuamos com o mesmo perfil que já apontamos anteriormente. De que a regularização do abastecimento doméstico só aconteça com a entrada da safrinha em julho”, finaliza.