Maggi quer retirar o leite do acordo do Mercosul para frear importações

Entrada no país de produtos lácteos provenientes dos países vizinhos tem afetado preços internos e causado prejuízo aos produtores brasileiros

Fonte: Pixabay/divulgação

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai propor à representação brasileira no Mercosul a exclusão do leite do acordo de livre comércio no bloco. De perfil pouco protecionista, Maggi está convencido de que apenas essa medida mais drástica pode conter as volumosas exportações de lácteos, principalmente do Uruguai, para o Brasil. A entrada descontrolada desses produtos tem provocado forte impacto nos preços internos e prejudicado os produtores nacionais. Desde junho, a queda foi de 30%.

“Não há, com as remunerações, com os preços que estão aí colocados, a possibilidade de o produtor continuar produzindo. Nós temos que nos preocupar é com uma desestruturação dessa cadeia. Dentro de uma negociação do Mercosul, não tem como o Ministério da Agricultura fazer com que isso pare, é um acordo muito maior. Mas eu vou propor ao governo que a gente tenha atitudes mais sérias com isso, inclusive de retirar o leite do acordo do Mercosul. Como nós não temos o açúcar, por que não podemos ter leite também, que é uma das grandes demandas dos pequenos produtores no Brasil? Digo com toda tranquilidade, eu já aderi a essa ideia. Não acho fácil politicamente de conseguir, mas o governo brasileiro tem que saber que a situação no campo não é nada boa e que os produtores precisam de uma ajuda por parte do governo para não quebrar todo mundo”, afirmou Maggi.

A decisão foi tomada após diversas reuniões com lideranças do setor de leite do país. Na semana passada, Maggi recebeu representantes de cooperativas de leite de Minas Gerais. Nesta terça-feira, dia 22, o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, expôs as dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores gaúchos. No mesmo dia, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) entregaram um documento técnico com as preocupações do setor lácteo brasileiro em relação ao impacto que as importações, principalmente de leite em pó do Uruguai, trazem ao mercado interno.

Acordo privado

Além dos preços em queda no Brasil, uma reação do setor privado da Argentina também pressionou os produtores de leite brasileiros a cobrarem medidas do governo. Existe um acordo para limitação das importações de lácteos argentinos em 54 mil toneladas por ano. Como não há a mesma imposição, o Uruguai tem exportado quantidades muito maiores. “Os argentinos ameaçaram romper o acordo caso a limitação seja apenas pra eles”, afirmou uma fonte a par das discussões.

A posição do ministro Blairo Maggi surpreendeu positivamente o setor leiteiro. “Só conseguimos o acordo com a Argentina porque sentiram que o governo estava pressionando. Eles aceitaram, acharam mais estável e previsível exportar 54 mil toneladas por ano. Com o Uruguai, nunca teve isso, não teve jogo duro com eles, por isso exportam quanto quiserem”, disse a fonte.

Apenas em julho deste ano, as exportações de lácteos do Uruguai para o Brasil somaram 9 mil toneladas, mas o pico das negociações já chegou a 15 mil toneladas em um mês. A limitação para a Argentina é de 4.500 toneladas por mês.

Blairo Magg vai tratar, em encontro, em São Paulo, na próxima semana, com o ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Tabaré Aguerre, da preocupação de produtores de leite com as importações do produto uruguaio. O ministro brasileiro deverá propor um acordo de cota, a exemplo do que já está em vigor com a Argentina.

Triangulação

O ministro também afirmou que a chamada triangulação na importação de leite não ocorre. Ao assumir o Ministério da Agricultura, ele solicitou um estudo à Câmara de Comércio Exterior (Camex), que negou a ocorrência do processo que consiste na entrada de lácteos de outros países, como a Nova Zelândia, pelo Uruguai.